A mediação tem por características a celeridade, a informalidade, a
autonomia da vontade das partes, o protagonismo, a confidencialidade, a
efetividade, a exeqüibilidade e a prevenção de conflitos.
O procedimento da mediação é simples e flexível, permitindo a construção
conjunta de regras que atendam à disponibilidade dos envolvidos e suas
reais necessidades.
terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
Negócio milionário
(26.02.13)
O deputado federal Marcos Feliciano (PSC-SP) é o relator de um novo projeto que quer acabar com o Exame de Ordem.
Ele diz que, perante a opinião pública, "está cada vez mais claro que a principal função do exame não é melhorar a formação dos candidatos mas enriquecer a OAB".
Ele define isso como "uma escravidão intelectual". E arremata com valores. "Só um dos Exames de Ordem de 2012 rendeu mais de R$ 70 milhões".
Leia a entrevista do parlamentar à revista IstoÉ desta semana
Agência Câmara
Marcos Feliciano, o relator
ISTOÉ – O sr. acredita que será possível aprovar o projeto?
Feliciano –Está
cada vez mais claro que a principal função do exame não é melhorar a
formação dos candidatos mas enriquecer a OAB. É uma escravidão
intelectual.
ISTOÉ – E a pressão dos advogados?
Feliciano – Uma única prova rendeu mais de R$ 70 milhões à OAB. A sociedade sabe que isso é um absurdo. ISTOÉ – O sr. acredita na boa vontade dos parlamentares para enfrentar essa força?
Feliciano – Depois
que o então presidente da OAB, Ophir Cavalcanti, chamou a Câmara de
pântano, vários deputados e senadores me procuraram para dizer que era
preciso acabar com o exame. A Ordem nos ajudou.
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013
Projeto de deputado propõe trocar prova da OAB por estágio obrigatório
Para garantir a qualidade da formação dos futuros profissionais, a sugestão de Eduardo Cunha é criar um estágio supervisionado
Um dos mais polêmicos projetos de lei a tramitar na
Câmara de Deputados, o documento que trata da extinção do tradicional
exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) é motivo de discussão tanto
por quem está no mercado quanto por quem segue na vida acadêmica. De um
lado, os argumentos buscam convencer de que a prova tem uma finalidade
arrecadatória. De outro, a afirmativa de que a peneira é capaz de
apontar falhas no ensino superior - e ajudar a superá-las.
O deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), autor do
projeto, compara a carreira de advogado a outras profissões que não
preveem realização de prova. "A profissão de médico, cuja consequência
do erro é muito mais grave, podendo até ceifar vidas, não exige exame do
Conselho Regional de Medicina (CRM). Por que, então, manter o da OAB?",
questiona. Para garantir a qualidade da formação dos futuros
profissionais, a sugestão de Cunha é criar um estágio obrigatório
supervisionado, uma espécie de residência em advocacia.
"Gastam dinheiro com inscrições, pagam cursos
suplementares... É uma pós-graduação de Direito com efeito de validação
da graduação já obtida. Ou seja, a OAB, com o seu exame espúrio e
enganoso, movimenta um mercado de milhões para si mesma. Estima-se que
arrecade cerca de R$ 75 milhões por ano com o exame, dinheiro suado do
estudante brasileiro já graduado e sem poder ter o seu direito
resguardado de exercício da profissão", diz.
"Se o graduado não passa e tem de buscar cursinho,
realmente é lamentável, porque a faculdade não está cumprindo sua
obrigação..."
José Luiz Quadros de Magalhães
Com cerca de 83% dos bacharéis reprovados já na fase
objetiva, a última edição do exame já denuncia carências das
universidades brasileiras. Dos 118.217 inscritos, pouco mais de 114 mil
responderam a questões voltadas a disciplinas obrigatórias no curso de
direito, além de tratarem do Estatuto da Advocacia e da OAB e seu
regulamento geral, código de ética e disciplina e direitos humanos.
Neste domingo, os poucos que conseguiram acertar mais da metade da
prova, se preparam para responder as questões teóricas da segunda fase. A
possibilidade de uma "reprovação recorde" deixa os estudantes
apreensivos.
Defesa do exame
A OAB defende a aplicação da prova e tem o aval do
Ministério da Educação (MEC). Em audiência pública realizada em outubro,
o secretário de Educação Superior do ministério apoiou a
obrigatoriedade do exame e de outros mecanismos que possam "se somar
para mais qualidade no sistema educacional”.
Em reunião na última terça-feira, o presidente nacional
da OAB, Marcus Vinicius Furtado, e o ministro da Educação, Aloizio
Mercadante, decidiram que irão assinar no dia 11 de março um acordo de
cooperação para criar novas regras para os cursos de graduação e
pós-graduação em direito no Brasil.
Favorável à obrigatoriedade do exame, o professor dos
cursos de direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da
Pontifícia Universidade de Minas Gerais (PUC-MG) José Luiz Quadros de
Magalhães afirma que esse é mais um mecanismo de controle dos
profissionais que entram no mercado. "Existe uma expansão muito grande
de cursos. Ainda que a fiscalização do MEC seja intensa, sabemos que há
critérios objetivos capazes de falhar", diz.
Na opinião do professor, é possível apontar vários
problemas nas universidades brasileiras - e essas carências acabam
aparecendo nos altos índices de reprovação do exame. Magalhães cita a
carga horária dos professores, muitos dos quais acabam tomando conta de
disciplinas sem ligação umas entre as outras, e o despreparo de muitos
estudantes, que apresentam lacunas referentes a conteúdos dos ensinos
fundamental e médio. "Há problemas relacionados a conhecimento de
português, história e geografia, que a faculdade nem sempre consegue,
nem tem o dever de preencher", reconhece.
O deputado Cunha
discorda do papel da prova. Para ele, fiscalizar os cursos
universitários é uma responsabilidade que deve se restringir ao MEC. "A
OAB não pode exercer um papel de órgão oficioso do Poder Executivo. Se
for assim, terão de abrir precedentes para outros segmentos
profissionais", diz.
Enquanto isso, o professor das universidades mineiras
acredita que não é preciso acabar com a prova, mas rever conceitos que
não estejam adequados à realidade do mercado. "Se o graduado não passa e
tem de buscar cursinho, realmente é lamentável, porque a faculdade não
está cumprindo sua obrigação. Mas aí o que deve ser rediscutido são os
modelos de ensino e a estrutura das universidades, e não a prova em si",
destaca.
Magalhães chama a atenção para o que acredita ser uma
tendência que vem ganhando força no mundo inteiro nos últimos 20 anos:
para ele, o conhecimento acadêmico estaria perdendo espaço para o saber
técnico. "A universidade é o espaço de construção do saber crítico, mas
os alunos estão querendo cada vez mais as disciplinas práticas. Eles
desprezam matérias como teoria do estado, teoria da constituição,
sociologia e filosofia. Isso empobrece o curso superior", diz. O
professor afirma que é papel da faculdade - tanto da direção, quanto de
professores - mostrar a importância também do conhecimento teórico. "O
profissional que tem base teórica e filosófica forte pode atuar em
qualquer lugar. Ele não vai ser bom em penal e civil se não tiver
teoria. Talvez essa seja uma explicação para a alta taxa de reprovação. É
uma discussão válida para recuperar a qualidade de nosso ensino",
avalia.